terça-feira, 6 de outubro de 2009

A dor que dói mais

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros


6 comentários:

Eliene Vila Nova disse...

Olá, nossa fiquei tão emocionada com sua mensagem, eu nem sabia que tinha uma fã.
Obrigada minha querida pelo carinho e amei seu cantinho, voltarei sempre.
Hoje estou só fazendo pesquisas pro meu casório, por isso vim rapidinho.
Beijos.

emerson mansano disse...

Oi Xará!

que mundo abóbora mais lindo!

vim parar aqui pelo blog da Eliene Vila nova, do comentário acima.

Muito linda sua casinha!


Beijooooooooooo

K disse...

Eu tenho uma visão muito particular da saudade: http://adonadomundo.blogspot.com/2009/09/vovo.html, dá uma olhadela!!
POIs é dona Silvana, que belo blog, cheio de ideias adoraveis, o post com as fotos da vida na roça me fizeram sonhar
Beijinho e boa semana

Unknown disse...

Sil!!
A Marta sabe mesmo como definir uma palavra por completo.
Bjs

Fernanda Reali disse...

Tinha lido essetexto na Revista do Gloo e tinha gostado. Ficou lindo com a imagem escolhida!
Bjs

Anônimo disse...

Boa Noi Sil, visitei seu Blog, adorei seu mundo abóbora... muito interessante os assuntos.
Bom fds pra vc, bjs. Eli.

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