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terça-feira, 4 de outubro de 2011

Leia isso: Feliz por nada


Mais uma coletânia de crônicas dos Jornais Zero Hora e o Globo, onde Martha é colunista.
  É um livro que não dá vontade de parar de ler, cada crônica é mais interessante, atual, bem humorada que a outra ... eu sou muito suspeita, mas essa é "o cara" !!!!

Aqui vai a Crônica que mais me identifiquei ... por que será????


Aristogatos
"Nunca imaginei ter um bicho de estimação por uma questão de ordem prática: moro em partamento, sempre morei. E se morasse em casa, escolheria um cachorro. Logo, nunca considerei a hipótese de ter um gato, fosse no térreo ou no décimo andar. Quando me falavam em gato, eu recorria a todos os chavões pra encerrar o assunto: gato é um animal frio, não interage, a troco de que ter um enfeite de quatro patas circulando pela casa?
Hoje, dona apaixonada de um gato de cinco meses (e morando no décimo andar), já consigo responder essa pergunta pegando emprestada uma frase de um tal  Wesley Bates: ""não há necessidade de esculturas numa casa onde vive um gato"". Boa, Wesley, seja você quem for. Gato é a minifestação soberana da elegância, é uma obra de arte em movimento. E se levarmos em consideração que a elegância anda perdendo de 10x0 para a vulgaridade, está aí um bom motivo para ter um bichano aninhado entre as almofadas.
Só que encasquetei de buscar argumentos ainda mais conclusivos. Por que, afinal eu me encantei de tal modo por um felino?  Comecei a ler outras frases irônicas e aparentemente pouco elogiosas. Mark Twain disse que gatos são inteligentes: aprendem qualquer crime com facilidade. Francis Galton disse que o gato é antissocial. Rob Kopack disse que, se eles pudessem falar, mentiriam para nós. Saki disse que o gato é doméstico só até onde convém aos seus interesses. Estava explicado por que gamei: qual a mulher que não tem uma quedinha por cafajestes?
Ser dona de um cachorro deve ser sensacional. Lealdade, companheirismo, reciprocidade, eu sei, eu sei, eu vi o filme do Marley. Cão é boa gente. Só que o meu cachorro preferido no cinema nunca foi da estirpe de um Marley. Era o Vagabundo, sabe aquele do desenho animado? O que reparte com a Dama um fio de macarrão, ambos mastigam,  um de cada lado, e mastigam, mastigam até que ... Eu trocaria todos os príncipes loiros e bem comportados da Branca de Neve e da Cinderela pelo livre e irreverente Vagabundo, que foi o personagem fetiche da minha infância. E lembrando dele agora, consigo entender a razão: aquele malandro tinha alma de gato.
Imagino que, com essa crônica, eu esteja revelando o lado menos nobre do meu ser. Pareço tão sensata, tão bem resolvida, tão madura. Quá! Tenho outra por dentro. Que vergonha. Levei mais de quarenta anos para me dar conta de que não faço questão de uma criatura que me siga, que me agrade, que me convide para passear com ele todo dia. Sendo Charmoso, na dele e possuindo ao menos alguma condescendência comigo, tem jogo.
Credo, um simples gato me fez descobrir que sou mulher de bandido.
07/01/2010
Martha Medeiros"


Post totalmente em homenagem ao meu amigo, companheiro, confidente ... Wisky!!

Faça como os gatos, se não der para comer ou brincar com a coisa ... simplesmente se afaste.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Leia isso: Fora de mim

 "A porta bate e logo se ouve a partida do motor. O carro levanta do chão uma sombra pesada, um zumbido surdo. No apartamento, ela se equilibra, tenta achar o prumo.  Ele se foi.  Ela sabia"

Maravilhoso,  uma separação em três partes ... a separação .... antes .... e depois da dita cuja, se for para escolher, escolho as duas primeiras partes, e ai eu paro e me pergunto: foi você que escreveu??  Martha sem sombras de dúvidas me conhece, ou melhor ... nos conheceu ... se não fosse pela última parte eu diria que fui eu sim que escrevi.



sábado, 22 de janeiro de 2011

Martha Medeiros no GNT


Queridonas .... Martha Medeiros estará no GNT neste domingo - 23/01 - às 22 hs conversando com Gabi Gabriela ....  não percam, eu não vou perder de jeito nenhum !!!!!!!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mulher de um homem só

Comecei a ler o livro: TREM-BALA da Martha Medeiros, mas como são contos ... leio um conto por dia .... dai me deparei com essa obra prima, me encantei e acabo de declarar o melhor conto que já li da Martha, e olha que eu adoro tudo que ela escreve.

Mas esse é demais, por favor, tire 10 minutinhos e leia, garanto que você vai adorar.



Mulher de um homem só

Ela é como o urso panda, está quase extinta do planeta. Quando alguém a ouve dizendo “sou mulher de um homem só”!, corre para o celular mais próximo e chama a imprensa para documentar. Quem é, afinal, essa mulher tão rara?
A mulher de um homem só casou virgem com um escritor que detesta badalação. A última festa em que ele compareceu foi a do seu próprio casamento, a contragosto. Ele só gosta de música barroca, uísque e poesia. Não quis ter filhos. É um homem terrivelmente só que se casou apenas para que alguém cozinhasse para ele, pois odeia restaurantes.
A mulher do homem só tenta animá-lo. Convida-o para subir a serra e comer um fondue. O homem faz que não com a cabeça. A mulher convida para ir a uma feira de antiguidades. Ele dá um sorriso sarcástico. Ela convida para ir na CasaCor. Ele tem espasmos. Ela convida para um teatro. Ele pega no sono antes que ela diga o nome da peça.
O homem só gosta de ficar em casa. Não vai ao cinema, nem a parques, nem a bares. Não visita ninguém. Não votou na última eleição. Não comparece às reuniões de condomínio. Tem alergia a gente.
A mulher do homem só tentou festejar os 50 anos dele. Convidou os poucos conhecidos do marido: um irmão, o editor e a mulher deste. Comprou cerveja, colocou o CD do Paulinho da Viola e flores nos vasos. Os convidados chegaram e se foram sem ouvir a voz do homem só. Ele apenas resmungou um obrigado quando recebeu um livro do editor e disse qualquer coisa inaudível ao ganhar meias do irmão. Passou calado a noite inteira. Quando pediu licença para ir ao banheiro, não voltou mais.
A primeira vez que a mulher do homem só disse “sou mulher de um homem só” foi para o motorista de táxi, que ficou muito impressionado. Ela era jovem, bonita, mas tinha uma tristeza comovente no olhar. Era a última corrida dele e, impulsivamente, convidou-a para uma caipirinha. Ela aceitou e, pela primeira vez em muitos anos, teve uma noite animada.
A segunda vez que ela disse “sou mulher de um homem só” foi para o vizinho do sexto andar. Estavam sozinhos no elevador e ele fingiu não ouvir. Nunca haviam trocado nem um bom-dia, quanto mais uma confidência. Mas ela repetiu: “sou mulher de um homem só”. Dessa vez falou de um jeito tão carente que ele se viu obrigado a tomar uma providência. O sexto andar acabou malfadado no prédio.
A mulher do homem só, então, passou a ter a agenda cheia: o professor de computação, o gerente do banco, o dono do posto de gasolina. Vivia para cima e para baixo com seus novos amigos: cinema, shopping, vernissages. Não corria o risco de encontrar o marido em nenhum desses lugares. Começou a usar decotes, maquiagem e ria alto. Nunca se sentira tão feliz. Surgia cada dia com um parceiro diferente nas festas, nas inaugurações de lojas, nos passeios pelo mercado público. Ganhou má fama. E quanto mais o povo falava, mais ela desdenhava. Ninguém fazia a mínima idéia do que era ser mulher de um homem só.

Martha Medeiros – Agosto de 1997
Livro: Trem-bala

e ai, gostou ?? eu conheço algumas mulheres de um homem só. E você?? Conhece alguma ??

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Leia isso: Tudo que eu queria te dizer

Queridonas, Martha Medeiros é Martha Medeiros ... minha musa e queridona ... ela foi a única que conseguiu fazer com que eu devorasse um livro em uma noite ... é isso mesmo, eu nunca havia me interessado por um livro a ponto de passar a noite lendo ... até o final ....

O livro é feito de cartas escritas por esposas, maridos, drogados, padres, esquizofrênicos, adolescentes, amigas, prostitutas e até por quem já está morto ... claro que foi escrita antes da morte né !!

Eu simplesmente não consegui parar de ler, cada carta me impulsionava para a próxima, e para a próxima, quando dei conta, madrugada e final do livro com uma carta da própria Martha.

O negócio é tão bom que virou peça de teatro, alias tudo da Martha está virando teatro, não assisti ainda "Doidas e Santas" mas o livro também é sensacional ... agora é só aguardar para conferir as atuações de Cissa Guimarães e Ana Beatriz .... leia, garanto que você vai adorar.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Leia isso: Doidas e Santas

Martha Medeiros, lógico, vocês sabem que eu adoro, esse livro é uma coletânia de cronicas publicadas no "O Globo", adorei todas as cronicas e até virou peça de teatro, é, a peça que tem a Cissa Guimarães como protagonista, eu ainda não vi a peça, mas tenho certeza que é maravilhosa.


Veja uma palhinha da peça ai ..... imperdível.



domingo, 6 de junho de 2010

Top 5

TOP 5

AS 5 MELHORES COISAS SIMPLES DO MUNDO
5 Pão francês fresquinho com manteiga Aviação.
4 Ovo frito, gema mole por cima de arroz quentinho.
3 Lençol branco de algodão cheirando a flor de alfazema.
2 Receber carta com selo.
1 Dar três espirros seguidos.


AS 5 MELHORES FRASES DE DERCY GONÇALVES
5 Eu só vou morrer quando eu quiser! Não programo morte, eu programo vida!
4 Ninguém me criou. Aprendi como as galinhas, ciscando. O que não me fazia sofrer eu achava bom.
3 Deus nunca foi um pai para mim. Deus é meu amante.
2 Eu sou a Dercy Gonçalves e você não vai me assaltar, porra.
1 Não saio sem dentadura, pestana e peruca


AS 5 PIORES EXPRESSÕES-SEM-SENTIDO
5 Um beijo no coração
4 Correr atrás do seu sonho
3 Até porquê...
2 Yes, we can!
1 Com certeza! -- esqueceram do : A nível de ....

AS 5 MELHORES EXPLICAÇÕES DE ADRIANA FALCÃO
5 Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
4 Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
3 Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
2 Paixão é quando apesar da placa “perigo” o desejo vai e entra.
1 Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.

AS 5 MELHORES FRASES DE HOMER SIMPSON
5 Por favor, não me coma! Eu tenho mulher e filhos. Coma eles!
4 Não vamos entrar em pânico: vou conseguir dinheiro vendendo um de meus fígados. Posso viver com um só.
3 A vingança é um prato que se come três vezes ao dia.
2 Eu não bebo água. Os peixes transam nela.
1 Por que eu tive que nascer pai?

AS 5 MÚSICAS BRASILEIRAS MAIS TRISTES
5 Valsinha .chico
4 Juízo Final .nelson
3 Pra dizer adeus.nana
2 Assum Preto.gal
1 Pedaço de Mim .zizi


OS 5 MELHORES POEMAS CURTOS DE MARTHA MEDEIROS
5 Quando dou pra ti sou mulher.
Quando dou por mim, solidão

4 Espelho, espelho meu
existe no mundo alguém
que reflita mais do que eu?

3 O que uma guitarra faz
nenhum rapaz comigo já fez.

2 Mesmo tendo juízo
não faço tudo certo.
Todo paraíso precisa um pouco de inferno

1 Fica o dito pelo maldito


AS 5 MELHORES FRASES DE GROUCHO MARX
5 O casamento é a principal causa do divórcio.
4 Estes são meus princípios. Se você não gosta deles, tenho outros!
3 Nunca me esqueço de um rosto, mas, no seu caso, vou abrir uma exceção.
2 Você prefere acreditar em mim ou em seus próprios olhos?
1 Por que eu deveria me preocupar com a posteridade? O que ela já fez por mim?


AS 5 MELHORES FRASES EM LATIM SELVAGEM PARA O CARNAVAL
Criação de Xico Sá
5 Urge copulatum ad empacotum est: vai comer aqui ou quer que embrulhe?
4 Caprina sine puditia: cabra sem-vergonha!
3 Orificium beborium proprietarium nulus: c... de bêbado não tem dono.
2 Tridum momescum finutum est: pra tudo se acabar na quarta-feira.
1Vedi, vini; nulus copulatum: e não comemos ninguém!

Moema Cavalcanti

Queridonas: roubei isso do Blog da Martha Medeiros

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Leia isso: Selma e Sinatra

Uma delícia de livro ... é da Martha Medeiros, não preciso dizer mais nada ...

Duas mulheres muito diferentes - nas origens, medos, idades e ambições. Provavelmente sequer se encontrariam, se não fosse um projeto em comum.
Guta vai escrever um livro sobre Selma, famosa cantora de 70 anos, o que deixa a jornalista fascinada pela ideia de lançar uma biografia de sucesso.
Nem tudo é o que parece, ou o que promete. O encontro de Selma e Guta provoca sentimentos inesperados, frustrações e desafios.
A prosa de Martha Medeiros nos remete às armadilhas deste encontro com muita sutileza, como se aparentemente apenas contasse histórias sobre duas mulheres.
Bem, Martha é especialista no assunto - poeta de bela estirpe, se tornou uma das colunistas mais lidas do país (e por mim também), escrevendo sobre nossas obsessões e afetos, e com esta ficção nos apresenta uma pequena jóia literária.




terça-feira, 6 de abril de 2010

Ela

Que linda essa foto ....
A revista britânica, a Glamour, causou alvoroço ao publicar a foto de Lizzie Miller, 20 anos, considerada muito gorda para ser modelo “plus-size”. A revista recebeu pencas de e-mails aprovando a publicação da foto! O sucesso foi tanto, mas tanto… que a revista já prometeu publicar mais fotos mostrando o corpo de garotas normais (e um pouco acima do peso)



Se você não tem problemas com a sua, levante as mãos para o céu e pare agora mesmo de reclamar da vida. O que são algumas dívidas para pagar, um celular sempre sem bateria, um final de semana chuvoso?
Chatices, mas dá-se um jeito. Nela não. Nela não dá-se um jeito. Para eliminá-la, prometemos cortar bebidas alcoólicas, prometemos fazer mil abdominais por dia, mas ela não acusa o golpe, segue com sua saliência irritante.
A gente caminha, corre, sobe escada, desce escada, vibra quando nosso intestino está bem regulado, cumprindo suas funções à perfeição, mas ela não se faz de rogada, mantém-se firme onde está.
"Mantém-se firme" é força de expressão. Ela é tudo, menos firme. Você sabe de quem estou falando.
Ela é uma praga masculina e feminina. Os homens também sofrem, mas aprendem a conviver com ela: entregam os pontos e vão em frente, encarando a situação como uma contingência do destino. As mulheres, não. Mulheres são guerreiras, lutam com todas as armas que têm. Algumas ficam sem respirar para encolhê-la, chegam a ficar azuis. Outras vão para a mesa de cirurgia e ordenam que o médico sugue a desgraçada com umbigo e tudo. Mas passa-se o tempo e ela volta, a desaforada sempre volta.
Quem não tem a sua? Eu conto quem: umas poucas sortudas com menos de quinze anos. Umas poucas malucas que acordam, almoçam e jantam na academia. Algumas mais malucas ainda que não almoçam nem jantam. As que nasceram com crédito pré-aprovado com Deus. E aquelas que nunca engravidaram, lógico.
As que ignoram totalmente sobre o que estou falando são poucas, não lotariam uma sala de cinema. Já as que sabem muito bem quem é a protagonista desta crônica (pois alojam a infeliz no próprio corpo) povoam o resto da cidade, estão por toda a parte. Batas disfarçam, vestidinhos disfarçam, biquínis colocam tudo a perder.
Nem todas a possuem enorme. Cruzes, não. Às vezes é apenas uma protuberância, uma coisinha de nada, na horizontal nem se repara. Aliás, mulheres acordam mais bem humoradas do que os homens porque de manhã cedo somos todas magras. Todas tábuas. Todas retas. Passam-se as primeiras horas, no entanto, e a lei da gravidade surge para dar bom dia. Lá se vai nosso humor.
Falam muito de celulite. Falam de seios, de traseiros, de rugas, de pés grandes, de falta de cintura, de caspa, de tornozelos grossos, de orelhas de abano, de narizes desproporcionais, de ombros caídos, de muita coisa caída. Temos uma possibilidade infinita de defeitos. Mas ela é que nos tira do prumo. Ela é que compromete nossa silhueta. Ela é que arrasa com a nossa elegância. Ela. Nem ouso pronunciar seu nome. Você sabe bem quem. Se não sabe, sorte sua: é porque não tem.

Crônica tirada do livro: Doidas e Santas
Martha Medeiros

terça-feira, 16 de março de 2010

Dia da Poesia


Dia 14 de Março foi o dia nacional da poesia, e domingo que vem dia 21 de Março é o dia mundial da poesia, eu não sabia ... mais uma que aprendo por aqui.

Para comemorar esse dia estou "colando" está crônica inédita da minha amada Martha Medeiros, lá no seu blog ela conta que nunca a publicou antes, então ai vai, achei muito linda.


POESIA OCULTA

Não, hoje não vou trabalhar. Acordei tão cedo que consegui ver os primeiros raios solares refletidos nos vidros dos edifícios, dando a eles uma coloração rósea que deixou a cidade com uma cara diferente da que ela costuma ter. Havia ali, naquele instante, 6h47 da manhã, poesia. Uma poesia com a qual nossos olhos desacostumaram. Hoje não vou trabalhar, preciso procurar por ela, essa poesia oculta.
E sei que vou encontrá-la em todo lugar, bastando pra isso a minha intenção. Começou. Já consigo vê-la na lombada dos livros que estão dispostos na estante, vários, um ao lado do outro, compondo um mosaico de cores e possibilidades. E vejo também na xícara de cafezinho, a louça branca, ao lado do jornal aberto, em cima da mesa, e um copo d´água, os três em colóquio matinal, clássicos do cotidiano. Ali: a poesia da caixa de fósforos quietinha na cozinha. Da mulher passando o batom na frente do espelho fingindo que não está vendo que seu marido a espia escondido, ele próprio também fingindo que já não se deslumbra com a cena.
A letra caprichada da criança na primeira folha do caderno. A fila de táxi no ponto em frente ao parque, enquanto os motoristas conversam e fumam aguardando os passageiros. O carrinho de supermercado abandonado no meio do estacionamento depois que todos se foram, esquecido na noite. Os cachos ruivos que estão no chão de um salão de beleza mixuruca, onde alguém cortou o cabelo e se arrependeu. A poesia oculta não é tão oculta assim.
Um varal com roupas puídas, penduradas numa janela de um edifício antigo. A torcida de um estádio explodindo ao ver entrar em campo o seu time. Duas adolescentes de cabelos longos cochichando e rindo à saída do cursinho. O olhar perdido da mulher dentro do ônibus. Um guarda-chuva preto.
Sua amiga que piscou o olho pra você lá do outro lado da festa, o afeto atravessando o salão e desviando dos convidados que separam vocês duas. A chama da vela que balança porque você está gargalhando. O casal que caminha na noite escura na beira da praia, agasalhados e agarrados, achando que ninguém os vê. Um resto de bolo dentro da geladeira.
O canhoto do cartão de embarque no fundo da bolsa. A almofada que caiu do sofá da varanda por causa do vento. O vapor que embaçou o espelho do banheiro depois do banho. A mochila em cima da cama da sua filha. Seu filho dormindo.
A poesia é uma fatalidade do olhar. Basta um frame de segundo e ela se revela, para então se esconder novamente atrás da pressa, do tédio, do desencanto, do hábito, do medo do ridículo que paralisa todos nós. Eu hoje não vim aqui para trabalhar, vim estimular o mistério.


MARTHA MEDEIROS

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Dono da Dona




Martha Medeiros, ela escreve tudo o que gostaria de escrever, e eu já disse isso para ela.
Olha só este texto, quem tem um amor "felino" saberá muito bem entendê-lo ,.....
Wisky, este texto é para você .....



ARISTOGATOS


Nunca imaginei ter um bicho de estimação por uma questão de ordem prática: moro em apartamento, sempre morei. E se morasse em casa, escolheria um cachorro. Logo, nunca considerei a hipótese de ter um gato, fosse no térreo ou no décimo andar. Quando me falavam em gato, eu recorria a todos os chavões pra encerrar o assunto: gato é um animal frio, não interage, a troco de quê ter um enfeite de quatro patas circulando pela casa?
Hoje, dona apaixonada de um gato de 5 meses (e morando no décimo andar), já consigo responder essa pergunta pegando emprestada uma frase de um tal Wesley Bates: "Não há necessidade de esculturas numa casa onde vive um gato". Boa, Wesley, seja você quem for. Gato é a manifestação soberana da elegância, é uma obra de arte em movimento. E se levarmos em consideração que a elegância anda perdendo de 10 x 0 para a vulgaridade, está aí um bom motivo para ter um bichano aninhado entre as almofadas.
Só que encasquetei de buscar argumentos ainda mais conclusivos. Por que, afinal, eu me encantei de tal modo por um felino? Comecei a ler outras frases irônicas e aparentemente pouco elogiosas. Mark Twain disse que gatos são inteligentes: aprendem qualquer crime com facilidade. Francis Galton disse que o gato é antissocial. Rob Kopack disse que se eles pudessem falar, mentiriam para nós. Saki disse que o gato é doméstico só até onde convém aos seus interesses. Estava explicado por que gamei: qual a mulher que não tem uma quedinha por cafajestes?
Ser dona de um cachorro deve ser sensacional. Lealdade, companheirismo, reciprocidade, eu sei, eu sei, eu vi o filme do Marley. Cão é boa gente. Só que o meu cachorro preferido no cinema nunca foi da estirpe de um Marley. Era o Vagabundo, sabe aquele do desenho animado? O que reparte com a Dama um fio de macarrão, ambos mastigam, um de cada lado, e mastigam, mastigam até que (suspiro... a emoção impede que eu continue). Eu trocaria todos os príncipes loiros e bem comportados da Branca de Neve e da Cinderela pelo livre e irreverente Vagabundo, que foi o personagem fetiche da minha infância. E lembrando dele agora, consigo entender a razão: aquele malandro tinha alma de gato.
Imagino que, com essa crônica, eu esteja revelando o lado menos nobre do meu ser. Pareço tão sensata, tão bem resolvida, tão madura - quá! - tenho outra por dentro. Que vergonha. Levei mais de 40 anos para me dar conta de que não faço questão de uma criatura que me siga, que me agrade, que me idolatre, que me atenda imediatamente ao ser chamado, que me convide pra passear com ele todo dia. Sendo charmoso, na dele e possuindo ao menos alguma condescendência comigo, tem jogo.
Cristo, um simples gato me fez descobrir que sou mulher de bandido.


Martha Medeiros

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Miss Imperfeita - Martha Medeiros

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver ), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista um Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou uma sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, não tiveram, acredite, essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender como delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter uma agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender todos e criar para si uma falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da MAC.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, esta precisando francamente rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma Pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) poden ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante '


Martha Medeiros - Jornalista e escritora

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Martha Medeiros - Toma lá, dá cá




Toma lá, dá cá


Vai acabar o Toma Lá, Dá Cá, é o boato que corre.
Já pensou se fosse verdade?
Não precisaríamos mais testemunhar as cenas que se repetem há séculos na TV e que ninguém acha engraçado. Atores de última categoria falando sempre o mesmo texto e interpretando o mesmo personagem. Um elenco canastrão que embolsa uma fortuna para perpetuar a própria caricatura e que apesar disso tem sempre um papel garantido: ano que vem eles estarão dando as caras na nossa telinha, de novo.
Esse toma lá, dá cá está no ar desde muito antes de a gente nascer. E o que temos feito de prático contra esse repeteco imoral? Nada. Ligamos a TV, sentamos no sofá e assistimos. No dia seguinte, comentamos com o vizinho, com o colega de trabalho: você viu aquela cena da meia? É só uma variação da cena da cueca feita por aquele outro. E o que você achou da cena dos atores rezando depois do golpe efetuado? Ah, essa ao menos foi original.
Só tem bandido nesse enredo. E a emissora não dá a mínima pra baixa qualidade da produção: muda o dono do negócio de quatro em quatro anos, de oito em oito, e ninguém tira essa indecência do ar. Seguem todos na grade da programação. Atrás das grades, nem um único figurante.
Mas vai acabar o toma lá, dá cá, ouvi dizer.
Eu só acredito não vendo. Não vendo mais o dinheiro passar de mão em mão entre as estrelas da vigarice instituída, enquanto a audiência de patetas segue assistindo toda essa encenação feita pelos "representantes" do povo.
Só acredito não vendo mais esses charlatões soltos e se reproduzindo fora do cativeiro, ladrão gerando ladrão. Só acredito não vendo mais as imagens filmadas em Brasília, a maior cidade cenográfica do mundo, a ilusão de ótica da política brasileira, uma capital de fachada.
É a celebração do amadorismo: não há qualidade de áudio e vídeo, o figurino é uma pobreza, os diálogos são sofríveis, mas não é por falta de caixa. O dinheiro sobra e todos roubam a cena e o que mais conseguirem levar.
Esse toma lá, dá cá é um erro histórico e eterno. Um festival de falhas de gravação, em que ninguém faz nada direito e acabam rindo por último. Nunca deram a mínima pra quem está por trás das câmeras, assistindo tudo de dentro de casa. A audiência é algo que eles têm na mão, já que do lado de cá ninguém se move, ninguém faz nada pra tirar essa história do ar. Por isso ela se repete há gerações, o mesmo roteiro requentado, os mesmos tipos, o mesmo texto. Um deboche. Uma novela sem previsão de último capítulo e que abusa das reprises.
Dizem que o Toma Lá, Dá Cá vai acabar. O programa do Falabella, eu não sei, mas o toma lá dá cá dos políticos, pelo visto, terá vida eterna. Como a reação popular não salta dos jornais para ganhar as ruas, tudo indica que seguiremos na mão desses artistas.
Beijo!
MARTHA MEDEIROS

Fonte: Blog da Martha Medeiros

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Obrigada por insistir

Até o mais seguro dos homens e a mais confiante das mulheres já passaram por momentos de hesitação, por dívidas enormes e dúvidas mirins, que talvez nem merecessem ser chamadas de dúvidas, de tão pequenas. Vacilos, seria melhor dizer. Devo ir a este jantar, mesmo sabendo que a dona da casa não me conhece bem? Será que tiro o dinheiro do banco e invisto nesta loucura? Devo mandar um e-mail pedindo desculpas pela minha negligência? Nesta hora, precisamos de um empurrãozinho. E é aos empurradores que dedico esta cronica, a todos aqueles que testemunham os titubeios alheios e dizem: vá em frente!

"Obrigada por insistir para que eu pintasse, que eu escrevesse, que eu atuasse, obrigada por perceber em mim um talento que minha autocrítica jamais permitiria que se desenvolvesse."

"Obrigada por insistir para que eu fosse visitar meu pai no hospital, eu não me perdoaria se não o tivesse visto e falado com ele uma última vez, eu não teria isso se continuasse sendo regida pela minha teimosia e orgulho."

"Obrigada por insistir para que eu conhecesse Veneza, do contrário eu ficaria para sempre fugindo de lugares turísticos e me considerando muito esperta, e com isso teria deixado de conhecer a cidade mais surreal e encantadora que meus olhos já viram."

"Obrigada por insistir para que eu fizesse o exame, para que eu não fosse covarde diante das minhas fragilidades, só assim pude descobrir o que trago no corpo para tratá-lo a tempo. Não fosse por você, eu teria deixado este caroço crescer no meu pescoço e me engolir com medo e tudo."

"Obrigada por insistir para que eu deixasse você, para que eu fosse seguir minha vida, obrigada pela sua confiança de que seríamos melhores amigos do que amantes, eu estava presa a uma condição social que eu pensava que me favorecia, mas nada me favorece mais do que esta liberdade para a qual você, que me conhece melhor do que eu mesma, apresentou-me como saída."

"Obrigada por insistir para que eu não fosse àquela festa, eu não teria aguentado ver os dois juntos, eu não teria aturado, eu não evitaria outro escândalo, obrigada por ficar segurando minha mão e ter trancado minha porta."

"Obrigada por insistir para eu cortar o cabelo, obrigada por insistir para eu dançar com você, obrigada por insistir para eu voltar a estudar, obrigada por insistir para eu não tirar o bebê, obrigada por insistir para eu fazer aquele teste, obrigada por insistir para eu me tratar."

Em tempos em que quase ninguém se olha nos olhos, em que a maioria das pessoas pouco se interessa pelo que não lhe diz respeito, só mesmo agradecendo àqueles que percebem nossas descrenças, indecisões, suspeitas, tudo o que nos paralisa, e gastam um pouco da sua energia conosco, insistindo.

Martha Medeiros


Imagens de: Kerry Beary




sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Perguntas

Quantas vezes você andava na rua e sentiu um perfume e lembrou de alguém que gosta muito?
Quantas vezes você olhou para uma paisagem em uma foto, e não se imaginou lá com alguém ...
Quantas vezes você estava do lado de alguém, e sua cabeça não estava ali?
Alguma vez você já se arrependeu de algo que falou dois segundos depois de ter falado?
Você deve ter visto que aquele filme, que vocês dois viram juntos no cinema, vai passar na TV ...
E você gelou porque o bom daquele momento já passou ...
E aquela música que você não gosta de ouvir porque lembra algo ou alguém que você quer esquecer mas não consegue?
Não teve aquele dia em que tudo deu errado, mas que no finzinho aconteceu algo maravilhoso?
E aquele dia em que tudo deu certo, exceto pelo final que estragou tudo?
Você já chorou por que lembrou de alguém que amava e não pôde dizer isso para essa pessoa?
Você já reencontrou um grande amor do passado e viu que ele mudou?
Para essas perguntas existem muitas respostas ...
Mas o importante sobre elas não é a resposta em si ...
Mas sim o sentimento ...
Todos nós amamos, erramos ou julgamos mal ...
Todos nós já fizemos uma coisa quando o coração mandava fazer outra ...
Então, qual a moral disso tudo?
Nem tudo sai como planejamos, portanto, uma coisa é certa ...
Não continue pensando em suas fraquezas e erros, faça tudo que puder para ser feliz hoje!
Não deite com mágoas no coração.
Não durma sem ao menos fazer uma pessoa feliz!
E comece com você mesmo !!!

Martha Medeiros

Imagens da pintora: Jana Magalhães.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A dor que dói mais

Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, dóem. Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim. Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. Saudade do pai que já morreu. Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos. Dóem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama. Saudade da pele, do cheiro, dos beijos. Saudade da presença, e até da ausência consentida. Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã. Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber. Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu. Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber. Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.

Martha Medeiros


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

As boazinhas que me perdoem


Qual é o elogio que toda mulher adora receber? Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns 700: mulher adora que verbalizem seus atributos, sejam ele físicos ou morais. Diga que ela é uma mulher inteligente e ela irá com a sua cara. Diga que ela tem um ótimo caráter, além de um corpo que é uma provocação, e ela decorará o seu número. Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito, da sua aura de mistério, de como ela tem classe: ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave de casa. Mas não pense que o jogo está ganho: manter-se no cargo vai depender da sua perspicácia para encontrar novas qualidade nessa mulher poderosa, absoluta. Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe, que ela tem uma voz que faz você pensar obscenidades, que ela é um avião no mundo dos negócios. Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade, seu bom gosto musical.
Agora, quer ver o mundo cair? ... Diga que ela é muito boazinha.
Descreva aí uma mulher boazinha. Voz fina, roupas pastéis, calçados rentes ao chão. Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de semana. Disponível, nunca foi vista negando um favor. Nunca teve um chilique. Nunca colocou os pés num show de rock. É queridinha. Pequeninha. Educadinha. Enfim, uma mulher boazinha.
Fomos boazinhas por séculos, Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas. Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos. A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas, crucifixo em cima da cama, tudo certinho. Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo incontrolável de virar a mesa. Quietinhas, mas inquietas.
Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas. Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrízes, estrelas, profissionais. Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen. Ser chamada de patricinha é ofensa mortal. Pitchulinha é coisa de retardada. Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa. Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo. As boazinhas não têm defeitos. Não têm atitude. Conformam-se com a coadjuvência. Ph neutro. Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções, é o pior dos desaforos.
Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas, apressadas, é isso que somos hoje. Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos. As inhas não moram mais aqui.
Foram para o espaço, sozinhas.

Martha Medeiros - Agosto/1997

domingo, 20 de setembro de 2009

Sensibilidade ...


Não é a altura, nem o peso, nem os músculos que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho . . . MARTHA MEDEIROS


sábado, 19 de setembro de 2009

Martha Medeiros

Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar.
Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil de lidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.
Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto, meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência, pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência.

MARTHA MEDEIROS

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Assista e leia isso: Divã - Martha Medeiros

E por falar em Martha Medeiros ... again ... foi ela que escreveu o livro que deu origem ao filme "O Divã", já li o livro, é espetacular como tudo que ela faz.

Olha ai algumas cenas do filme:


Esta é da peça de teatro ......















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